domingo, 28 de novembro de 2010

29 de Novembro - Niver Mamae

Coloquei o filtro da arte naquela cena comum,
e a luz, (que até então estava escondida)
veio surpreender-me com seu poder de claridade.


A mulher simples, mãos calejadas de lida rotineira,
mulher que aprendeu a curar as dores do mundo
a partir de meus joelhos esfolados de quedas e estrepolias.

Aquela mulher, minha mãe,
rosto iluminado pela labareda que tinha origem num fogão,
trazia consigo o dom de me devolver a calma,
que a vida tantas vezes insistiu em me roubar.


Aquela cena: mulher, um fogão aceso,
panela escondendo a brancura de um arroz feito na hora.
É uma das cenas mais preciosas
que meu coração não soube esquecer.

Saudade de mãe é coisa sem jeito, chega quando menos
imaginamos: um cheiro, uma melodia, uma palavra... uma
imagem, e eis que o cordão do tempo,
nos convida ao retorno da infância.


Como se um fio nos costurasse de novo ao colo
da mulher que primeiro nos segurou na vida
e agora nos pudesse regenerar.
Saudade de mãe é ponte que nos favorece
a um retorno a nós mesmos;
travessia que borda uma identidade muitas vezes
esquecida, perdida na pressa que nos leva.


Saudade de mãe é devolução,
é ato que restitui o que se parte;
é luz que sinaliza o local do porto,
é voz no ouvido a nos acalmar
nas madrugadas de desespero e solidão,
através de uma frase simples:
Dorme meu filho! Dorme!


Hoje, nesse dia em que a vida
me fez criança de novo,
neste instante em que esta cena feliz
tomou conta de mim,
uma única palavra eu quero dizer:


Oh minha mãe, que saudade eu sinto de você!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sabores



Varios sabores se misturam dentro de mim, mas dois sabores tem se mostrados mais fortes.

Sao sabores diferentes quase opostos, mas de certa forma semelhantes.
Ha' quase dois anos atras chegava por aqui e o que existia da China na minha vida eram apenas dois vistos em meu passaporte: um de trabalho e outro de residencia.

O homem realmente e' uma esponja que absorve tudo que esta' ao seu redor. Isso ja' e' motivo suficiente para escolhermos por onde andamos e com quem convivemos.


Entao, assim que cheguei me propus a fazer diferente dos outros ex-patriados que so convivem com seus iguais.

Para viver a China, teria que viver e conviver com os diferentes. Me aventurei e tentei angariar uns amigos chineses. Acabei fazendo varios…

Um jantar aqui… uma viagem ali. Uma visita aqui… um almoco ali.

E' assim que funciona deste lado do planeta. Ninguem confia em ninguem do dia para a noite. Eh preciso cultivar!


Foto emprestada da Minnie! :-)
Aprender a lingua e falar um pouco de chines ajudou. E muito!

Mas o que eu nao esperava era que de conquistador me tornaria territorio conquistado.


Dificil falar de todas as pessoas com quem eu convivo. Sao muitas.

Pessoas do trabalho, pessoas que conheci nos cafes da vida… e por ai vai. Cada uma tem um sentido. Cada uma tem um signicado especial. E o conjunto delas gera essa explosao de diferentes sabores dentro de mim.

Se fosse dar nome para esses sabores principais chamaria-os de "presencas" e "saudades".


Sei bem que um dia, os sabores vao se inverter.

A presenca se mudara' em saudades e a saudades virara' presenca. Por isso tenho saboreado muito bem cada um deles a seu tempo.


Cada dia vivido e' um novo sabor. E os novos sabores contrastam com os velhos, formando assim novos sabores. Que muitas vezes me fazem lembrar dos antigos. Que saboreava quando ainda estava no Brasil.

Mas ja' e' Novembro! E o tempo foi passando rapido e de tantos sabores sobre a China, o sabor se transformou em saber.

Acabei conhecendo, mesmo que so' um pouco, como e' o modo de pensar e viver deste outro lado do planeta.

Percebi assim que o mundo e' realmente pequeno. Bem pequeno.

E assim como parte do Brasil veio um dia comigo para a China, dentro do meu coracao, parte da China fara' tambem a viagem de volta. Um dia...